Desabafos de Facebook - “Vamos ler Harry Potter no Ensino Médio”

Na segunda feira, em que muitos deixaram de trabalhar e curtiram o feriado prolongado do dia do trabalhador. Resolvi dar uma olhada no Facebook para matar um pouco o tempo com a publicidade da Fan Page, mas fui extraviado de minhas intenções quando vi que tinham notificações de uma grande amiga minha que se formou comigo no Ensino Médio. “João, dê uma olhada nisso”, a mão costuma ser mais rápida nessas horas e quando percebi já estava na página de uma menina que estava cursando o Ensino Médio e criticava a literatura dizendo que precisamos mudar as leituras obrigatórias do ensino para o vestibular e parar de ler livros “pornográficos” de Machado de Assis e toda a companhia que fez história no Brasil nessa época. Defendia como se tivesse toda a razão do mundo. Deixei um texto bonito para ela e cabe a mim esclarecer através da coluna, que me orgulho.

É claro que esse tipo de desabafo adolescente me perturbou durante um tempo e me fez retirar várias conclusões. Qual seria a resposta para a pergunta: “Por que estudar então essas obras literárias?” Regressei ao passado para buscar a resposta e não demorei muito para encontrar. A sociedade contemporânea mudou muito e hoje existem muito mais leitores que na antiguidade. O Brasil importava livros literários e didáticos para a sociedade, mas com o aparecimento de “Machado de Assis e companhia” o nosso país, com a vanguarda de escritores geniais, começou a provocar uma coceira nos conservadores da época. Os eventos de mudança foram se alastrando pelo país e aos poucos obras legítimas de nossa terra começaram a surgir, mas a figura do escritor nacional, ainda discriminada, demorou a ser mudada. Anos depois a Semana de Arte Moderna, foi o rompimento com o umbigo do cordão umbilical da literatura no nosso país com os modelos europeus de escrita. Essa mudança fez surtir o efeito não só na literatura, mas nas artes plásticas e todas as formas de expressão artística por certo tempo até que os nossos leitores começaram a não discriminar nossa arte nacional.

Mas ainda estamos presos aos padrões literários do estrangeiro e percebemos isso no desabafo da garota no facebook, que diz que o correto seria ler obras como Harry Potter e Jogos Vorazes. Isso por que este modelo imposto pela globalização de que a realidade dos outros países é mais bonita que a do nosso. Mudar estes padrões seria alterar muitas coisas, uma nova “Reforma Literária”, talvez. Mas uma coisa é certa, é errôneo pensar que ler as obras contemporâneas traria um entendimento mais aprofundado destas.

Se o problema é ler obras não pornográficas, não podemos ler de maneira nenhuma, George R.R. Martin que esta no auge do mundo da literatura. Estudar o passado é compreender por que o futuro é assim e esta assim.