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terça-feira, 4 de setembro de 2012

Nas Nuvens da Carol - Eight - I

Lembra-se da Carol? Bem, ela esta de volta e com um texto que será publicado em três partes no Literafics! Este é muito bom, vale ler.



Eight – I

Seu quarto estava escuro. Assim como todo o resto da casa. Ela não esperava companhia essa noite. Embora algo lhe dissesse que ele viria. No silêncio inquietante da madrugada, um vento gélido passou pela janela aberta, movendo as cortinas e trazendo alguma fraca  iluminação para o ambiente, e foi pousar sobre a cabeça do indivíduo. Deitada em sua cama, escondendo-se como um bichinho, Sophia gemia  baixinho a cada trovão. Com a luz proveniente dos relâmpagos, ela o via aproximar-se pelo enorme corredor que dava de encontro à porta do seu quarto. Passou-lhe pela cabeça levantar-se e fechar a porta correndo, mas ela sabia que não adiantaria. Ele sempre estava lá, em todos os pesadelos. Ela sabia o quanto ele era preciso e silencioso. Conhecia sua voracidade e sua velocidade. Nem adiantaria se mexer.

Evitando em vão pensar no que estava por vir, Sophia deixou a mente vagar. Sophia… Sabedoria, em grego. Ela nunca soube o porquê de seus pais terem escolhido esse nome. Nunca viu sentido. Justo ela, que não tinha o menor vestígio de inteligência. A irmã caçula, a novata inexperiente na vida. “Porque você não é como a sua irmã, Sophia?” – ouvia isso de seus pais, professores, vizinhos… Ouviu isso a vida inteira. No fundo, ela mesma não entendia os motivos que eles tanto queriam saber. E também não entendia porque exigiam tanto dela. A única coisa que ela sabia era sobre ele… O antagonista de sua vida, que habitava seus assombrosos pesadelos desde criança.

O que era aquilo? Será que poderia mesmo ser chamado de indivíduo? Um monstro, um ser imaginário, fantástico? Era algo que não deveria existir… Disso Sophia sabia… Ele não podia existir, nunca poderia ser real. Era a pior das imaginações. Um ser que não deveria surgir nem nas piores mentes sociopatas. Um corpo semi-humano, meio canídeo, dessangrado, com grandes fendas em toda sua extensão, por onde saíam entranhas em pedaços, alguns deles queimados até os ossos. Deveria ter um metro e meio de altura  e ainda assim, ao olhar para suas órbitas desabitadas que assemelhavam-se a cachoeiras de sangue e para seu sorriso cheio, pontudo, tinha-se a certeza de que ninguém poderia escapar do terrível destino que ele reservava…

Assim como Sophia sabia que não iria escapar. O monstro de seus piores pesadelos era agora real… E a estava aguardando, gargalhando silenciosamente a cada passo, a cada gemido de horror…

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